Contra uma primeira impressão que fique...

No sábado, estive em uma festa. Foi nessa ocasião que um de nossos amigos resolveu levar a nova namorada pela primeira vez. Chegamos à festa e ele já estava. Chegamos falando alto, rindo, abraçando e cumprimentando todo mundo, dividindo piadas internas e tocando em assuntos próprios da nossa dinâmica.

E a menina ao lado do meu amigo como quem assiste jogo de tênis. O rosto ia de um lado para outro. Às vezes um sorriso ou uma risada com o conjunto da galera. Eis que todas as meninas resolvem ir dançar. Alguns meninos acompanharam. "Vamos?" E ela fez que não. Uma amiga em comum ameaça: "Se você não for, não vamos aprová-la." Ela se retrai, murmura algo como "vou depois".

Não posso mensurar a empatia que tive com essa situação. Quem me conhece, sabe que eu sou falante, gosto de aparecer, faço piadas, às vezes um comentário com ausência de bom senso. Eu sou espontânea. Mas é só estar no meio dos amigos de um namorado qualquer, pronto. Eu mudo. Eu fico tímida, lacônica. Apresento minhas idéias e elas saem de forma agressiva.

É o exagero do esforço. Com todas as outras pessoas, eu não sinto a necessidade extrema em ser aceita, em agradar. Mas com os amigos do namorado é complicado. Se eles não gostarem de mim, significa que o namorado ficará em posição desconfortável sempre que tivermos que sair juntos. Significa que eu ficarei desconfortável. Significa que eles ficaram desconfortáveis. E um encontro que era para ser agradável, começa com "ih, lá vem aquela namorada insuportável do fulano".

Aff... por aqui eu tento fazer a minha parte. Sempre que conheço a namorado de amigos, eu converso, sorrio, tento enturmá-las, conto histórias engraçadas [não comprometedoras] sobre o namorado para ela rir. Eu faço por elas o que gostariam que fizessem por mim.

No final daquela festa, a namorada do amigo vira para mim e pergunta: estou aprovada? E eu, com o teor alcoólico elevado, nem sabia do que se tratava: Tá sim! Vai passar... Ela sorriu.

Nenhuma primeira impressão deveria ser tão decisiva quanto a oportunidade de se conhecer uma pessoa aos poucos.

sobre castelos, elos e afins.

Há quem invista suas fichas no ramo dos alicerces.
Cansei, quero pontes. To bem dos castelos de areia e das constantes ondas do mar.
Quero caminhos de ida e volta. Não que eu vá voltar, mas eu quero saber que eu posso.

Porque eu sempre sento aqui, construo essa bagaça sozinha, e ninguém me avisa que a brincadeira é de uma pessoa só. Se é solo, perae, deixa eu me mexer.

Castelos, to cheia. Cansei de brincar de princesa. Agora eu sou arquiteta, construo pontes.
E enquanto me vou, deixo os pedacinhos do meu coração pelo caminho. E quando volto eu monto tudo de novo, novo.

A verdade nunca me decepcionou

Eu começo esse post sem ter a mínima idéia do tema em questão. Não que eu nunca tenha feito isso, mas hoje a confusão dos sentimentos e dos acontecimentos me nubla.

Tem a minha versão. A outra versão. A versão ouvida. A versão dita. A contada. A esquecida.
Mas a realidade é uma só. Eu não sou fã da pós-modernidade. Eu não acredito que para a mesma realidade haja verdades diferentes. Eu não acredito que há diferentes certos e errados.

Condenem a minha ortodoxia o quanto quiserem. Para mim há tendências, há bom senso. Se a gente aceita o conceito de que o que é certo para mim, pode não ser para você, então tudo é permitido. E esse argumento vale para tudo. Eu faço algo que você não gosta, que você considera errado e eu me saio com um: "mas é certo para mim". Tchau e benção.

Posso estar falando merda. Posso mesmo. Mas eu ainda acredito na sinceridade e na empatia. Eu acredito que quando você faz algo que machuca alguém, mesmo que não fosse em um milhão de anos a sua intenção, você pode [e, na minha opinião, deve] considerar que machucou. Antes tudo, aqui cabem as desculpas. E depois das desculpas, qualquer justificativa que você acha que deva.

As pessoas são muito diferentes. E que bom que são diferentes. E a gente aprende uns com os outros. Aprende, inclusive, com quem se pode contar. E com quem, eventualmente, não pode.



Desatando nós...e nós!

Um emaranhado de fios. Quando penso na minha memória, eu me vejo perdida num emaranhado de fios vermelhos sem continuidade, presos uns aos outros por nós mal dados. Um ato falho, uma caminhada descuidada e os fios se desfazem e eu perco dias e dias de lembranças. Toda a tentativa de refazê-los termina numa invenção. Invento, crio e recrio o passado.

Porque é simples. Porque eu posso.

Se eu fizer força suficiente, eu me convenço. Me convenço. Eu sou absurdamente sugestionável. E se você me perguntar, lembra aquele dia em que fomos não sei a qual lugar, fazer sabe Deus o quê, acompanhados daquele monte de pessoas? E eu sinto os fios se juntando na mente, e as imagens se formando como tapetes.

Certo. Algumas dessas imagens eu nem sei porque guardei. Posso ter tido dias e experiências mais marcantes, mas a minha memória, tão rebelde, escolheu manter umas e não outras. Um sorriso. Uma lágrima. Uma frase. Palavras, gestos, horas ecoando na minha mente como fantasmas assombrando a minha sanidade.

Mas não tenho dúvidas de que está tudo lá guardado.  Está tudo lá naquele confuso e seletivo tear. Eu acredito que ninguém esquece. A gente supera. Supera o estranho prazer na dor de remoer as lembranças, de reviver diálogos, de se arrepender de atos. É esforço, é escolha. Mas a gente supera.

E o incômodo no peito que agora me toma, após desencadear certas lembranças, me faz constatar que talvez eu esteja menos curada do que eu gostaria.

Aposto minhas fichas no tempo e em seu poder de desgatar os fios dessas memórias, até que elas se percam nesse enorme e desarranjado emaranhado de nós.

Porque vocês existem, nada é tão difícil.

todo relacionamento requer um certo compromisso. E regras. E expectativas. E algumas surpresas. Uma ou outra. E sempre boas. Embora, haja as ruins.

Mas, até onde eu sei, envolve amor. Envolve sentimento. E sempre que há sentimento envolvido, há irracionalidade. Há expectativas exageradas. Há decepção. Não sei dizer se há perdão.

E há amizades que para mim representam um espelho. Eu me vejo nelas. Eu não preciso dizer. Elas conhecem o meu exato reflexo. Elas sabem que eu não como camarão.

Conhecem o meu lado pirracento, teimoso e às vezes pretensioso, de ter que ser convencida, ao invés de aceitar a ideia alheia. Sabem do meu coração remendado, da minha enorme esperança em encontrar alguém para vida inteira, mesmo que saibam que eu não levo fé em relacionamentos longos.

Entendem que, eventualmente, algo que me disserem vai ser tão verdade, que irá atravessar meu coração como uma flecha e que eu precisarei de alguns minutos para me recompor. E que isso pode vir acompanhado de algumas saídas repentinas do MSN ou estar absurdamente ocupada em segundos quando falamos ao telefone.

Sabem quem eu sou. Sabem da onde eu vim. Conhecem o complexo desenrolar de fatos que me levou a ser quem sou. E reconhecem o que de bom há em mim.

E são poucas as pessoas que compõem esse grupo. E cada vez, com o passar do tempo, o grupo fica menor. E só o que é verdadeiro, permanece. [clichê, mas verdade. Em tempos de efemeridade, conforta saber que algo é feito para durar].