Procura-se

Às vezes eu me recordo de algo que tive. Um tornozeleira. Eu lembro que sempre estava com ela. E adorava olhar pro meu pé. Mexia de um lado pro outro, olhava no espelho. Não sei quanto tempo passou até eu perceber que eu a tinha perdido.

Perdi? Será que eu dei?
Será que ela quebrou enquanto caminhava? 
Ou será que eu vi e me conformei e minha mente apagou?

Não sei.

Acontece também com livros que eu gostaria de ter. Eu os li mas não lembro se comprei e perdi. Se peguei emprestado. Não sei a quem perguntar. Simplesmente não está ali. Não foi meu? Por onde andará? Emprestei?

Tanto assim é minha experiência com o tempo. Será que o desperdicei? Quando o tive? O quanto tive e quanto me sobrou? Consumi muito ou pouco? Foi significativo ou foi supérfluo? 

Só sei que corro atrás dele e o procuro por toda parte e me culpo enormemente pelo tempo que não sei se perdi.

Disparatada!

A melhor coisa de ser considerada louca é nunca ter que justificar suas atitudes. A atitude é a justificativa. O que se espera de uma pessoa considerada louca. Ora, loucuras! E uma pessoa considerada louca entrega a encomenda: faz doidices, sandices, maluquices...loucuras!

Ninguém pensa em investigar o porquê consideram determinada pessoa louca. É louca, dizem. Como dizem das loiras e das morenas, das altas e das baixas. São. Não se discute. 

E não se demora muito para que a pessoa considerada louca demonstre sua mais marcante característica. De repente, como combustão espontânea a pessoa considerada louca, explode.

Explode em riqueza, alegria, personalidade e originalidade. Só pode ser louca de querer ser assim num mundo tão padronizado e careta!

Louca!