Eu não falo amor.

eu queria saber ser desapegada. Porque eu imagino que o amor demanda desapego. Porque eu acredito que o amor não tem condicional. Então, eu finjo ser desapegada. Eu finjo que eu não ligo que você já ficou com aquela menina logo ali sentada. Eu rio da situação. Rio de você ter se dado o trabalho de me contar. E por que, em um milhão de anos, isso seria uma informação necessária para alguém? Mas dentro de mim não há risos. Há contradição. É lógico que você não nasceu ontem. Nem anteontem. Você vem junto com uma história que você viveu nos seus vinte e poucos anos antes de sequer saber que eu existia. E nessa história inclui-se uma noite em que você ficou com aquela menina logo ali sentada de pernas cruzadas. Você ensaia uma justificativa qualquer por ter ficado com ela. A emenda fica pior que o soneto.

e eu já imagino que aquilo não vai dar certo de maneira nenhuma. Como eu posso ter um relacionamento com uma pessoa que já ficou com aquela menina ali sentada de pernas cruzadas e blusa clara? Por fora, eu sorrio. Mudo de assunto. Já viu como a lua está bonita hoje? Mas dentro de mim, eu não consigo tirar da mente aquela menina ali. Agora nem sentada ela está mais. Suas pernas já estão esticadas. Mas eu a continuo olhando de soslaio.

e penso que você me causa insegurança demais, medo demais, vontade demais. E eu te odeio porque contra todas as minhas generalizações, você faz questão de falar comigo todo dia. Morro de raiva que a gente tenha acordado e você tenha me dado um beijo de bom dia e tenha aberto a porta para mim para que eu pudesse voltar.

E eu odeio que mesmo você sendo quem você é, nesse tão pouco tempo [quanto tempo é pouco tempo?], mesmo a gente estando bem, e você ainda não tendo me dado motivos para duvidar, a única coisa que eu lembre seja a forma cáustica e erosiva que eu sei experimentar o amor.

3 comentários:

Suzy disse...

Nossa.

Vc disse tudo que eu sinto neste momento, mas não consegui desabafar com palavras.

Chega a ser sufocante esse sentimento.

Obrigada por deixar-me sentir mais aliviada. Você conseguiu traduzir meus temores.

Beijos

lia nandhe disse...

e sera que tem outto jeito possivel de amar ou melhor, de se apaixonar? me pergunto...

Samuel Medina (Nerito Samedi) disse...

Já pensou em escrever roteiros para televisão? Fico imaginando suas palavras na boca de alguma personagem...

Além disso, mesmo que seus textos não sigam uma cadeia linear, fico com a ligeira sensação de que estou acompanhando um seriado.

Só mais uma coisa: coloquei um selo no blog e recomendei o seu. Abraço!