"Viajar é trocar a roupa da alma"

Então é isso, o dia tá chegando, a hora tá mais próxima e a cada tic tac do relógio, a viagem fica mais perto. Já posso sentir os ares portenhos inundando o meu olfato. Aquele friozinho também.

Mala quase pronta. Já cheia. Para evitar excesso de bagagem, vou deixar o meu juízo em casa.

Máquina em punho. Bastante disposição, tênis para as caminhadas, simpatia para as novas amizades e coração aberto para as novas experiências.

Eu me desejo sorte. E me desejo também aquela coragem que faz nos permitir. Aquele imprevisível, aquela rota inesperada que traz o inesquecível.

Até breve!

Devolva-me.

fato é que eu nunca gostei muito do seu beijo. E o nosso beijo nunca combinou.
Gostava ainda menos quando você fumava. E você fumava para me irritar, eu tenho certeza.
Tampouco me agradava a sua mania ridícula e infantil de achar que tinha direito que ficar puto por eu estar puta. Nunca houve tanta incoerência no mundo. Odiava o barulho de mensagem no seu celular e me dá arrepios até hoje o seu ringtone.

Eu tinha completa aversão a sua vaidade exarcebada, ao seu costume de não travar discussões e a sua ideologia barata. Me irritava aquele seu sofá-cama e a impressão que eu tinha, que quando eu não estava ali, você não dormia nele. Eu podia jurar.

Me desagradava o seu gosto musical cheio de bandas de músicas longas, melancólicas e limitadas. Me ofendiam a sua cultura literária, sua preferência por blusas claras e bermudas de uma cor só.

Eu ficava impaciente na sua roda de amigos fútil ou enquanto esperava o seu carro terminar de ser lavado. Me enfureciam os seus atrasos, sua falta de respeito pelo tempo e sua incompreensão com a minha ansiedade. Me feriram as suas mentiras, o seu descaso e a sua expressiva capacidade em me manter ali, mesmo quando o prazo já tinha expirado e quando o cheiro de velho e estragado já era sentido a distância.

A linha tênue que separa o amor e o ódio, a paixão e a indiferença, o acaso e a provocação, não é fronteira. É escolha. E ficar aqui é orbitar ainda mais tempo nessa sua gravidade.

Acabei-me.
Porque só sendo outra, para não ser nunca mais quem eu fui para você.

Fingir, pra que?

Eu tava numa conversa que nada tem a ver com o contexto da conversa que eu vou iniciar agora com vocês, quando um amigo solta a piadinha, clássica, pérola do estereótipo feminino: as mulheres fingem muito bem.

Porra, vamos combinar, pessoas que compartilham comigo do sexo feminino, que história é essa de fingir, queridas? Não, não, tem algo de podre no Reino da Dinamarca e a gente tem que reverter esse quadro.

É fato que milenarmente foi negado o prazer a mulher no sexo. Prazer eram para as putas [putas, mas felizes, né?], para as meretrizes, amantes, aquelas indignas. Então, o homem ia lá, terceirizava a masturbação no seu lindo corpinho, terminava o serviço, e a mulher objeto, nada.

Mas as mulheres avançaram. Lutaram. Século XX que o diga. Viu as mulheres votarem, serem votadas, vereadoras, deputadas, senadoras, presidentes! Mulher é chefe no trabalho e de família. Queimaram sutiã. Lutaram contra a violência. Tem direito a herança, dão nomes aos filhos. Trabalham fora.

E depois disso tudo, você deve pensar que o sexo foi então a parte fácil. Que nada! Ainda tem gente que faz sexo, o cara goza e venha-vós-a-nosso-reino, nada! E você fica ali... ele com cara de satisfeito, e você chupando dedo.

Cumiquié? É lógico, que o fingimento é também uma prova de amor. Você não quer magoar o cara. Ele lá se achando o deus do sexo, e você nem ai! A culpa não é sua, gata. Cada um sente prazer de uma maneira. E cabe a você saber a sua, ou descobrir junto com o parceiro.

Não vou dizer para vocês que eu nunca fingi. Eu já fingi. E posso dizer que a dramartugia desse país está perdendo uma excelente atriz. Mas veja, quando eu comecei a perceber que fingindo eu tava prejudicando, ninguém, mas a mim mesma, eu falei quer saber, ACABOU, o amor! Acabou o teatro, o show NÃO tem que continuar.

Ou é de verdade, ou a gente vai ficar aqui até amanhã... até que seja. E às vezes é rápido, às vezes demora... com eles também é assim. Você não é um E.T., espere o seu tempo e aproveite a recompensa.

E saiba, sexo é para ter sacanagem. Porra, é sexo. Então abram suas asas, soltem as suas feras, relaxa e goza. De verdade. Porque é muito bom ;).

Bem que se quis...

Esse mundo curioso e simbólico dos relacionamentos sempre me intriga. E como estou no limbo entre um término e um possível [ainda que remoto] começo, ando mais sensível para essas manifestações.

Quando se termina um relacionamento, a primeira coisa que tende a cessar é o contato. [salvo em casos extremos, dignos de acredite se quiser, né, Lia?]. A não ser que você trabalhe ou estude com a pessoa, é bem provável que você não o veja. Seja porque, de agora em diante, você irá naturalmente evitar os locais que ele frequenta, seja porque o destino se encarregou do ponto final.

Mas tem outras coisas que você só se desfaz com o tempo. As fotos, o número dele, as cartas, os presentes, as mensagens no celular... isso são coisas das quais você se livra aos poucos e cada uma delas representa o inevitável fim. Você termina com ele de novo cada vez que guarda na caixa mais funda do armário aquela foto de vocês dois.

E você reafirma para si mesma o fatídico "foi melhor assim". Esse processo tem um quê de triste, mas também tem muito de libertário, de renovador. E quanto mais fundo você empurra as lembranças, menos peso você carrega contigo. Menos dor...

E é espaço vazio que se preenche...Que venha o próximo...

Monólogos da minha insanidade [2]

Sabe qual o problema? Eu te dou o controle e você fode a porra toda. Não diferencia loro de criolo. Anda a esmo. Não respeita limites, me mete nas maiores furadas e quando você se machuca, quem sofre sou eu. Ah, me poupe. To cansada.

Oras, se ao menos você fosse sensato. Sim, sensato. Eu sei que não é da sua natureza a sensatez. Mas aprende? É burro? Parece. Burrice nata, incruada. E surdo, cego. Burro, burro, burro!

Que raiva que eu tenho de você, sabia? Da vontade de te arrancar do peito e andar por ai sem você, coração!

Monólogos da minha insanidade

"Porque se for para ser só sexo. Tudo bem, sexo it is. Ou it is, nada, quer saber? Que história é essa, companheiro? Porque, veja, essa história de pau amigo e tal, sexo casual e tal, não é para mim. Foi mal, desculpa, eu não sou moderna, eu não banco isso. E se eu fiz discurso que banco foi para te conquistar. E me fudi! Porque me joguei também nesse poço sem fundo das promessas que te fiz e que sabia que eu nao ia cumprir. Aí, eu fico nessa, tu não é meu namorado, mas parece que também passamos da fase de ficante. Estamos naquele limbo, perdidos nessa dimensão paralela, sem saber o que somos. E vamos combinar? É conveniente, mas é chato para caralho!"

"Eu tenho, sim, a mania de achar que o mundo não faz nada mais do que estar a minha disposição. O mundo, não... correção! Os caras com quem eu fico. Não é por mal. É porque mamãe ensinou, faça com os outros o que você gostaria que fizessem por ti. E eu to a sua disposição, todinha sua, soltinha na marola... o que você fizer de mim, eu sou. Aí, eu só espero que você faça o mesmo. É pedir demais?"