Batidas na porta da frente, é o tempo...

Ah...o tempo.

O tempo é essa criança correndo na sala, curiosa com tudo. Você tira algo da mão dela, ela pega outra coisa, você se distrai, ela bagunça, você arruma, ela destrói. 
Você procura algo que a entretenha e de alguma forma, descobre. Você acha que é o mestre do tempo.

E então o tempo é o mar em dia de ressaca. No meio do oceano, você não alcança o chão, é calmo, mas cansativo. Boiar é chato, você quer sair. Enquanto se aproxima da margem, as ondas batem, reviram suas pernas como um redemoinho, te puxam pro fundo e você acorda em meio a areia com os pulmões cheios d'água. Foi dolorido, mas você conseguiu. E você acha que superou o tempo.

Mas ele agora é tempestade. Chovendo, ele inunda. Troveja, você conta um e o relâmpago risca o céu de cima abaixo, o barulho assusta. Você caminha com dificuldade com água no joelho, foge das árvores que são cobertura, mas não são abrigo. Uma casa no horizonte, você se desloca naquela direção. Você entra na casa. E você acha que ganhou do tempo.

E o tempo é incêndio. Protegida pelo abrigo, você não percebeu a faísca, ignorou a primeira chama. Sentiu conforto no calor e quando deu por si, o fogo se alastrava pela casa, absorvia suas paredes em altas labaredas, você está longe da porta. Quebra uma janela, corta o braço e cansada, você senta num canto e pede trégua.

O tempo não concede.

Ele te consumiu.