"...mas eu não sou maluca, porque eu tenho que fazer terapia?"
Mas nem todo mundo que faz terapia é maluco e nem todo maluco faz terapia, algumas pessoas sensatas me disseram.
No entanto, quando adentrei o consultório de Raul e ele me perguntou: "então, Dora, o que te traz aqui?", eu não tive dúvida: "a loucura".
Como negar? Como esconder as sabotagens, os delírios, as ideías neuróticas e a ansiedade descabida? Só pode ser loucura, Raul. Favor me cure, conserte, remende, faça ae a sua mágica psicoterapêutica. Me ensine a viver, a lidar com a vida.
"mas você já tinha feito terapia antes?"
Nem. Me achava resiliente demais, forte demais, centrada demais.
"então não faz ideia de como seja o processo?"
Ninguém quis me contar. Me falaram que é o tipo de coisa que você tem que ver para saber. Raul também não me respondeu. Pediu para eu falar de mim, da minha família, perguntou se eu tinha amigos. Falei o que pareceu ser uma hora inteira. Já queria pedir água quando ele falou: "então nos vemos segunda?"
E eu pensei que eu devo ser mesmo grave. Olhei para o relógio e eram 21:35. Sorri e parti ainda alienada do processo, desconfortável por tudo que disse, mas principalmente do que omiti. Pintei uma versão caricata de mim. Escolhi o divã a poltrona. Isso com certeza fala algo sobre mim.
Me intriga saber o que será.