e antes que eu me esqueça...

- achei a sua cara.

o brinco tinha umas pedras vermelhas ornamentadas em uma estranha figura de 5 pontas. Não uso muito vermelho, nem nunca demonstrei afeição por objetos assimétricos. De alguma forma, no entanto, era aquela imagem que eu passava. Ou ainda, eu poderia passar a ideia de ser alguém educada demais para negar um presente que não teria sido minha escolha de acessório em ocasião nenhuma.

Já gastei meu latim em textos e mais textos para falar mal do ano novo e suas promessas. Ri de suas tradições, nunca comi 7 uvas nem nunca pulei 7 ondas. Visto roupas usadas, pego a primeira calcinha do monte sem me preocupar com a cor. No máximo, eu como lentilha. Eu gosto de lentilha, então fico feliz que minha mãe se importe em cozinhá-la no mínimo uma vez por ano. No ano em que eu usei vermelho, eu não me apaixonei, no que usei amarelo eu não fiquei menos pobre e o azul nunca me trouxe tranquilidade. Nem pretendo comentar sobre os anos em que usei no branco.

Fosse como foi, seja como é, esse fim de ano eu vou fazer tudo diferente. Para começar, assim como os doentes curados com placebo, começarei a acreditar nesses talismãs, tradições e simpatias. Ao que parece, a força não está no objeto e sim, na fé que temos neles. Comprei vestido novo, calcinha nova, sandália nova. Pretendo inclusive compor esse visual com o brinco vermelho pontudo que é "a minha cara". Vou pular as tais 7 ondas e comer as 7 uvas. Eu vou passar o minuto inteiro que vai de meia noite a meia noite e um, sorrindo, porque reza a lenda que seu ano é o resumo do que você faz no seu começo.

E seja o que cada patuá desses quiser...


...

fui tomada por uma súbita vontade de sentir o mar.

O balanço das ondas força meus pés a procurarem apoio. Flexiono meus joelhos. Procuro o equilíbrio.
O gosto salgado do mar me lembra o suor. Agarro a areia do fundo e a sinto sair aos poucos enquanto a trago para superfície. Pouco resta na palma da minha mão.

Luto contra a correnteza para sair, cada parte do mar me força a ficar. Me cobra permanência.
Cada parte de mim luta um pouco. Quando atinjo a faixa de areia, meus cabelos pingam o mar. Sinto o gosto novamente. Ainda é suor. Ainda é esforço. Traduz a vida.


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doutorado, aí vou eu.