insone presença

meu coração arde.
estou com uma estranha saudade de tudo que vivi.
Dos lugares em que estive.
Das pessoas que conheci.
Dos momentos.
Da segurança que tudo que passou nos dá só porque é finito e acabado.
Só porque toda ação conjugada no passado não me traz nada que amedronte ou entristeça.

É uma nostalgia estranha, antes porque é irritantemente constante do que pelas lembranças que traz.

Não, não estou arrependida do que fiz ou do que poderia ter feito.
As pessoas tendem a se arrepender das palavras a mais que disseram nos momentos de raiva.
Hoje eu me arrependo do que disse de menos.

[nem te] conto II

A manhã de hoje lembrava aquelas de prenúncio de primavera. E eu, uma ingênua crédula da previsão do tempo, havia me vestido o suficiente para aguentar os ares polares do sul. Então, eu sentia calor e estava claramente incomodada.

De qualquer forma, eu agia como em todas as vezes em que passava em frente àquele prédio: com esperança. Desde que descobri que a empresa em que você trabalha tinha sede perto da minha casa, aquela rua era caminho certo, seja qual fosse o meu destino.

Era todo um ritual para te atrair. Eu colocava no MP3 a sua banda favorita, estava sempre perfumada e com  as unhas pintadas. Andava o mais devagar que a minha idade permite e tentava que aquilo fosse o mais casual possível.

O cheiro daquela rua era sempre o mesmo. Não era o novo jardim do prédio recém construído do outro lado da calçada, nem dos livros novos da livraria da esquina. Era um cheiro de nostalgia. Eu prendia a respiração em ansiedade e sentia o seu perfume. Olhava disfarçadamente para trás. Quem sabe você tinha passado por mim e eu não tinha reparado - o quanto será que os anos podiam ter te mudado? Mas para trás não tinha ninguém, só a saudade.

E hoje foi mais uma daquelas quartas-feiras, de muita esperança [fantasia?] e pouco resultado, tentando ainda driblar os desígnios do nosso destino...

eu não sei rimar.


quero que você assista
eu me despir
das roupas, do meu devir
você sempre foi o realista
e quem sou eu?

me acho artista
enquanto desenho meu corpo no seu

e observo suas digitais
tatuadas no meu corpo
coisas tão banais
marcando a memória
pouco a pouco

e quanto mais da nossa história
ainda está por vir?

então vem assistir
eu me despir
das minhas ilusões
minhas, suas e nossas limitações

o tempo é nossa bruxa má...
vê se não vai demorar.