"O tempo rodou num instante...Nas voltas do meu coração..."

- E se for um sinal?

E tudo na nossa vida tinha sido um. Desde aquela maldita conta de bar que eu não consegui pagar por ter perdido o cartão, que me atrasou a chegar em casa, que foi a gota d'água de um relacionamento falido e minha mudança definitiva para o bairro das Laranjeiras.

Eu não conseguia vê-la por aquele insulfilm número sei lá quanto. Eu só a imaginava vestida de noiva, nervosa, provavelmente roendo as unhas, como no primeiro dia em que nos vimos.

Eu estava distraído e não imaginava a minha sorte. Não precisaria pedir outro cartão e esperar os 15 dias [in]úteis que ele demora para chegar e enfrentar as filas do banco para sacar os 10 reais da passagem. Eu sempre esqueço de contar com o da passagem.

- Gabriel?

Eu me virei e a vi lendo o nome no cartão. Eu fiz que sim e ela sorriu. Quis convidá-la para almoçar, para retribuir o retorno em segurança do meu cartão do banco. Ela olhou o relógio. Hesitou. E, no final, disse: - por que, não?

E o almoço se estendeu quase até a janta de tanto que conversávamos. Ela foi embora e nem número trocamos. E nem foi preciso. Nos cruzamos tantas outras vezes em situações inusitadas. No metrô, enquanto cedia lugar para uma senhora, num Flamengo e Vasco, na praia, num hall de elevadores no centro e na padaria numa manhã de primavera. Foi quando descobri que ela também morava nas Laranjeiras.

Quando a gente se beijou pela primeira vez, chovia. E ela disse que era como no cinema. E mesmo quando brigamos e terminamos antes daquele carnaval, nós acabamos em casas de veraneio vizinhas e fizemos as pazes naquele quarto quente de um ineficiente ventilador de teto, afogados em suor e repelente.

Foi mais ou menos nessa época que fiz a tatuagem da bússola que apontava para o "N" de Norte, mas que na verdade apontava para ela, "N" de Núbia. E Deus sabe o custo que foi convencê-la a se casar na igreja para agradar minha mãe.

Tudo isso para no dia do casamento o padre sumir.

- Meu amor, fica calma. Deve ter acontecido alguma coisa. O trânsito dessa cidade é um inferno, principalmente quando chove.

- E eu achava que os padres moravam nas igrejas...

O padre chegou molhado e sujo de graxa e o casamento atrasou 2 horas. Quando finalmente ouvi a pergunta, queria dizer que tudo aquilo era livre e espontânea vontade do destino. Mas resumi tudo.

- Sim.

368 dias depois...

ssshhhh! Lê baixo. Não vai contar para a minha dissertação que eu estive aqui, gastando o meu português em outro lugar que não seja nas suas infinitas folhas brancas. E o cursor piscando. Eu odeio aquele cursor.

Nem me dei conta que venho escrevendo aqui - com menos frequência do que planejei - há mais de um ano. Quando olhei o calendário, de repente era dia 13. E alguém me explica por que já é dia 13, quase metade do mês de maio, quase metade do ano 2012 e quase 2 meses para eu entregar a minha dissertação?

Obrigações e prazos vencendo à parte, eu não poderia deixar de comentar sobre o primeiro aniversário desse meu companheiro que é o blog. Sim, porque ele aguenta minhas loucuras, meus rascunhos e minha quase-bipolaridade. Um texto armazenado que eu achei péssimo hoje, pode ser a minha obra-prima de amanhã. Vai saber...

Fato é que esse blog é a prova viva de uma mudança. Eu fui de me achar engraçada ao escrever textos cheios de deboches e indiretas para uma escrita mais melancólica e reflexiva. Há quem culpe o mestrado [eu culpo] ou pode ser só, e somente, sinais da minha rabugice aflorando [Mariela disse que serei uma velha bem rabugenta. Azar o dela que estará tricotando comigo!].

Ou ainda, quem sabe, reflexos de um ano em que eu tive algumas perdas que me trouxeram mais ensinamentos do que eu gostaria de admitir.

Seja como for, que os anos passem, mas que a escrita me acompanhe.

as faces do fim

- mas eu acho que dessa vez não tem volta...

É assim o início do fim. Pro fim mesmo a gente não acha, a gente sabe. Se perguntam se não tem volta, você responde um simples e confiante NÃO. Uma negativa na qual você acredita. Você chegou ao seu fim. E dali não nasce nada.

Agora se você diz "eu acho que dessa vez não tem volta" é porque tem. Você gostaria do fundo do seu coração que não tivesse. Você torce para que internamente haja a força necessária para isso ser verdade. Mas você sabe que não é.

E encontra. E diz que é a última vez. "Não, foi só um reencontro, uma despedida". E aquilo estranhamente se repete. E quando você vê é namoro de novo. Ou é uma putaria qualquer da qual você não se liberta.

É um fio, quase um cordão umbilical que alimenta sua fraqueza, sua incapacidade... sua carência. Seu medo de ficar só. Seu medo que ninguém nunca mais te ame ou deseje.

E aquilo se arrasta. E você carrega esse fardo. Pesa. Marca. Debilita.

E a gente nunca sabe qual fio dessa bomba relógio irá desarmar a bomba ou causar a explosão que, aí sim, termina tudo.

E, enfim, é fim.
Eu podia escrever um livro hoje ou não escrever nada. Não ia fazer diferença.
Todos os dias as palavras que me preenchem não são as mesmas que me deixam...


"...e uma rainha sentada sozinha em frente a uma mesa
planejando a tão sangrenta batalha
por seus generais, desacreditada
mas ainda movendo exércitos numa tentativa (vã) desesperada
de conquistar uma terra
que quer tudo!
menos ser conquistada...
sacrificando soldados
fechando os olhos pra não ver
que certas coisas simplesmente
não foram feitas pra ser..."