Make yourself home

Pode entrar.
Fica à vontade, a casa é [quase] sua.

Não repara a bagunça. Nem essas fotos antigas.
Faz um tempo que não venho aqui.
Não tenho tido tempo de arrumar, mas agora que você chegou, prometo deixar o mais organizado possível!

Não, não. Não entra nesse cômodo. A luz queimou há dias e eu não vou consertar.

Gostou do ambiente? Sentiu-se bem? Você pode ficar o tempo que quiser.

Eu tenho certeza que você vai fazer uma bagunça nisso aqui. Tudo bem.
Só não quebra nada por favor... eu levo dias para consertar. E posso não saber te perdoar.

Só me avisa quando tiver para ir embora para eu me preparar.
Eu me acostumo fácil com a sua presença.

Traga o que puder. Ocupa o teu espaço. To precisando expulsar o outro inquilino e você me faz bem.

Bem vindo ao meu coração.
É mobiliado.
O aluguel é barato.
E a vista é linda...

Pode confiar.

O dia dos [meus] namorados - "para não dizer que não falei de flores..."

Eu sei que eu reclamo, eu falo mal, eu xingo eles pelo que sofri, pelo que mentiram, pelo que não fizeram e muito mais.

Mas cabe aqui dizer que eles também, nem que num ínfimo e curto momento [uns mais e outros menos] me trouxeram algo de bom. Me ensinaram alguma coisa, deixaram algo de inesquecível.

Eu aprendi a ouvir boa música.
Tentaram me ensinar a tocar violão.
Enxugaram algumas lágrimas.
Ouviram muitas das minhas reclamações.
Cuidaram de mim quando eu fiquei doente.
Me ensinaram a dirigir, me confiaram seus carros.
Me ensinaram sobre esportes.
Me escreveram cartas.
Assistiram filmes comigo.
Me dedicaram músicas.
Me compraram os presentes mais simples e mais lindos.
Me deram livros.
Me deram chocolates.
Me fizeram sorrir.
Leram meus textos.
Levantaram meu astral.
Me acharam bonita.
Comeram minha comida.
Me ouviram cantar na carona de seus carros.
Me olharam nos olhos.
Riram das minhas piadas.
Me envolveram em seus braços.
Dormiram comigo de conchinha.
Me consolaram.
Viajaram comigo.
Fizeram planos comigo.

Dora Delano não existiria ou seria mais tediosa sem todos vocês meninos.

Muito Obrigada.

;)

Gato por lebre

Então, eu arrumei esse novo trabalho. E num dos primeiros dias de treinamento, e o vi. Lindo. Seu par de óculos que lhe combinam tão bem. Seus cabelos bagunçados. Seu andar de quem não estava nem ai.
Ele passou por mim e sorriu. Deve ter pensado que eu era uma de suas alunas. E eu fiquei tão atordoada que nem consegui sorrir de volta. Quando o sorriso finalmente se fez em meu rosto, ele já havia se virado e partido.
E assim, os dias se passaram. Eu o via de longe conversando com os outros professores. Ele só me cumprimentava. E eu me derretia.
Eis que um dia, a diretora me chamou para conversar sobre algo que nem me lembro mais. E quando cheguei à sala dela, lá estava ele sentado com aquele charme que envolvia por completo o ambiente.
Sentei no sofá. Arrumava meu cabelo devagar, me questionando se eu ainda exalava o meu perfume. Ficamos conversando os três. O sotaque maranhense dele era música pros meus ouvidos.
Eu saí dali planejando nosso casamento. As flores seriam brancas. Nossos filhos seriam lindos. Nossa lua de mel na Argentina... Amor, paixão, nós dois velhinhos sentados na varanda de uma casa de praia...

Aí... poizé, tem um ! Dois dias depois disso, todos os professores foram intimados a participar de um treinamento para uma nova tecnologia que estavam colocando no curso. Como seria em outra filial, combinei de ir com outro professor que tinha entrado na mesma época que eu.
Conversa vai, conversa vem, ele solta:
Ele: “pow, a professora fulana tava me contando que o Diogo tá super triste e tal...”
Eu: “triste por que?”
Ele: “ah, parece que ele tinha um relacionamento lá em Minas, onde ele morava...
Eu pensei: OPA! Tinha do verbo não tem mais! Acabou, bjotchau, a fila anda!
mas não tava dando muito certo...ai parece que ontem ele terminou
Nunca vi tanta felicidade caber num único segundo...
com o namoradO...
...e acabar tão rápido.
Eu imediatamente fiz: AHN?
É, ele tinha esse namorado...
O resto pra mim foi blábláblá... adeus, casamento, flores brancas, filhos, argentina, varanda...
O cara era perfeito, tão perfeito que era gay... Quando finalmente chegamos no curso, eu sentei bem longe dele. Ele me viu e sorriu. E eu nem sorri de volta. Tava ali me sentindo enganada...quase um estelionato!
E quando eu falo que eu sou azarada, cagada de urubu, vocês me acham dramática...