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chego à casa. Abre-se a porta e a sala está entulhada. Dou dois passos e já tenho que desviar de uma caixa. Umas outras são quase pilastras mal conjuntadas prontas a desmoronar. Passo com medo e pressa.
Procuro a dona da casa.
Já habituada àquela confusão, ela desliza entre caixotes, caixetas, baús, arcas. 
Senta numa nesga de sofá descoberta com as pernas próximas ao corpo. Tem alguns roxos, provavelmente de bater em quinas dessa confusão.
Olha e me sorri. 
Eu me sento no único pedaço de chão que parece estar vazio, o único no qual couberam meus dois pés paralelos em pé. 

Observo-a distante, esquisita, um semblante vazio.

- Dora, o que é isso tudo?
Ela me olha como se não me ouvisse. 
- Você viu como choveu ontem? Adoro tempos frios. São tão mais agradáveis.
- Sim, são. Mas você não me respondeu.
- E o Temer, será que cai?
- Tomara, mas você ainda não me respondeu.
- To com fome. Topa um japonês?
- Desisto.

Ela se ajeita para chegar mais perto de mim. 

- Isso são coisas que eu separei para irem embora. As olhei, escolhi, decidi. Empacotei. Mas agora não sei como fazer. Não me pertencem, não fazem parte de mim. Porém ocupam esse espaço que parece que  vai morrer se tiver vazio...

- Japonês, então.

Ela pegou a bolsa e saímos.

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