Sobre

tenho certeza de que minha primeira palavra não foi nem papai, nem mamãe: foi quando. Minha relação de amor e ódio com o tempo é notória. Me incomodam os atrasos, me irritam os adiantamentos. Me interessa o tempo certo que não chega. O tempo certo que eu desconheço a duração e o horário.

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tenho observado o burburinho a respeito do fim do mundo. Todos querem saber o que faríamos se o mundo fosse realmente acabar. Eu tenho achado isso um desperdício de tempo quer o mundo acabe ou não. Se acabar, e não houver nada depois, para onde eu levo a satisfação ou a frustração do que fiz ou deixei de fazer? E se houver algo depois, para que fazer tudo correndo?

rabugice pega.

eu não quero escrever porque eu não quero ouvir que vai ficar tudo bem. Não quero ouvir que para tudo na vida tem jeito. E que todos nós experimentamos um revés ou outro, que não ganhamos sempre. Estou farta do discurso consolador da derrota. Me irrita reclamar sempre dos mesmos problemas, ainda esses meus problemas também sejam os problemas dos outros.

Não. No final nem tudo fica bem. E quando é esse final, no final das contas? Ele chega? Ou estamos atados a uma trama sórdida e sarcástica que conserta um lado para estragar o outro? Será que toda notícia boa vem sempre acompanhada de outra ruim na mesma proporção?

Chega o dia em que alguém me pergunta "tudo bem?" e eu respondo com toda sinceridade: "tudo."?


Em tempo:
às 21:15

eu quero chorar o choro dos injustos. Gritar e espernear feito criança mimada. Amaldiçoar cada um dos meus obstáculos. Deixa os olhos arderem, incharem, a cabeça doer. Quero desidratar em lágrimas, me afogar em lamentos enquanto bato nervosamente meus pés na cama e afundo meu rosto no travesseiro. Deixe-me sofrer que a dor purifica.

chão da realidade é duro.

Sabe que por um momento eu realmente achei que era paixão? Amor, sei lá. Mas um lampejo de razão repentino me fez entender que, no fundo, tudo que eu queria era provar para você que suas acusações sempre foram a busca por redenção de seus próprios erros.

Isso estabelecido, lamento dizer que estou oca, racional e realista a última potência. O quadro é grave. Não só porque a paixão tem sido o combustível da minha vida pelos últimos anos, não só porque eu venho tentando me adequar e ser a mulher perfeita para cada um dos amores que tive.

Não só. Mas também.


e agora eu me vejo tão ciente de mim mesma. Tão inteira. Achando banal e sem sentido cada uma das neuroses das minhas amigas. Neuroses tão minhas, mas que de alguma forma não me pertencem mais.

E, qualquer um poderia dizer que eu deveria estar feliz, porque eu sou livre. Porque eu posso fazer o que quiser da minha vida sem depender de ninguém. No entanto, a única questão que me perturba, desafia e interroga é: serei eu capaz de viver sem morrer de amor?