Aurora

eu preciso ir embora, o sol já raiou.

A lua estava linda e enquanto o céu estava limpo, eu vi as mais lindas constelações. Mas a alvorada não tardou. O sol ofuscou nossas ilusões. E cá está o leste me lembrando que é hora de ir.

Desfaçamos os laços. Solta a minha mão. Eu digo que preciso ir. Você me diz que talvez eu devesse ficar. A sua dúvida me passa mais certezas do que você jamais poderá imaginar.

E você insiste que as coisas não mudam, mas podem melhorar. E nos falta o ingrediente que sela tudo. O filtro que nos permitiria acreditar que embora seja dia, nossa noite poderia ser eterna.

Não nos apaixonamos. Ou você não se apaixonou e eu luto ferozmente contra a ideia de que eu talvez esteja.

De que talvez eu esteja tão louca pela ideia de tê-lo para sempre, que eu poderia viver na sua sombra e ignorar o sol.

Mas eu preciso ir.

E quase não percebo que só meus dedos permanecem entrelaçados aos seus...

O incômodo conforto da dúvida.



Tenho tanto para te dizer. Queria te dizer que vejo muito potencial em nós dois. Queria dizer que gosto de você e que ainda não sei nomear isso. Queria dizer que você me provoca os sorrisos mais sinceros, os beijos mais gostosos e os prazeres mais intensos. Queria te dizer que guardei na memória o dia em que abri os olhos e você me observava dormir. Queria dizer que adoro quando você pede para eu repetir algo que fiz e você acha fofo.

Queria dizer. Mas morro de medo em pensar na sua reação, nas suas respostas. Temo que esse seja aquele tipo de sentimento que se alimenta da ausência, da insegurança, da desatenção.

Enquanto eu não sei, eu imagino, eu penso, eu fantasio. E me conforto na possibilidade sempre existente na dúvida.



Em tempo:

a vida tem estranhamente recompensado a minha intensidade em tudo, menos no que eu sou mais intensa: no amor.

3.14159 26535 89793 23846...

as dificuldades de se tentar quantificar algo que não é exato, não é definido, não é constante, não é frequente. Varia e sua conta tende ao infinito. Não tem ponto final, não tem vírgula. Cada frase acompanha uma intermitente reticência.

Eu procuro os sujeitos, mas ultimamente só encontro verbos e predicados que meu ego traveste em qualquer um.

Compreensão, entendimento. A contradição, o processo. Me aproximo e vejo um caleidoscópio que de tão forte, ainda mantém sua impressão mesmo depois que desviei o olhar. E eu desvio o olhar, mas ainda prende minha atenção, meu coração, meus sentidos.

E o que eu quero? Desconhecimento e confusão. Eu quero tudo. Quero a intensidade da paixão, a tranquilidade do amor, a variedade da lealdade e a segurança da fidelidade.

Quero saber que a ligação é tão forte que você me seguiria pelos vales mais profundos, escuros e misteriosos.

quem é você?