Sopa de letrinhas [os cafajestes também amam?]

às vezes eu posso jurar que tudo [e todos!] no mundo querem me fazer desistir de você. E eu bravamente devo resistir a essa investida do mundo. Eu, rambo, contra todos e contra tudo. Porque é disso que o amor verdadeiro é feito. De força de vontade.

Mas perae, eu não te amo. E você não me ama. Talvez o mundo também não nos ame. E enquanto eu remo aqui nesse barquinho contra a maré remexida da tempestade, eu me pergunto: vale o esforço? E logo em seguida: eu preciso fazer esforço? Será que os relacionamentos "bem sucedidos" [o que de perto é perfeito?] que eu vejo, presencio, testemunho, são frutos de um enorme esforço de uma das pessoas? Ou das duas, que seja? Ou será que eles dão certo porque seguiram um fluxo natural de acontecimentos?

Fato é que eu agora estou aqui, 66 dias depois, e permita-me dizer, 66 dias para o resto do mundo, porque para mim já se passaram 66 meses! Mas fato é que depois desse curto tempo, eu ainda acho que isso é uma aposta. É um risco que eu assumo correr ou não. Ou corro antes de assumir. Ou levo na sacanagem e na putaria. Ou faço tudo certo.

Não fazer nada também uma escolha. A inércia é uma escolha e nem sempre a dos covardes. A inércia pode ser a escolha dos indecisos. Como eu. E esperar para ver o que vai rolar não precisa ser uma escolha doída. Mas também não significa que eu esteja parada. E eu penso que as mesmas oportunidades de encontrar outra pessoa que você tem, eu tenho.

Eu quero encontrar outra pessoa? Bom, ai, senhoras e senhores, que mora a questão. Eu gosto de você. Precisava te dizer isso aliás. Você já tem todo o poder sobre mim mesmo. Uma informação a mais, uma menos não me deixa mais vulnerável do que eu já sou [era para escrever "estou", mas vou deixar esse ato falho].

e um dia para mim, ah esse dia vai chegar, eu tenho fé, vai chegar, tá vindo, eu vou experimentar isso tudo sem tanta dor. Um pouco de dor sempre tem. Mas sem tanta dor, sem o dolorido do minuto a minuto em que duvido de tudo, para me certificar de tudo e depois duvidar de tudo de novo e ficar nesse ciclo vicioso eterno.

Nesse ínterim, eu sofro do lado desse telefone, querendo ligar para você me falar de novo tudo que eu já sei. [ciclo vicioso, lembra?]

O aprendizado vem ou não vem da repetição?

Há meros devaneios tolos a me torturar.... [o médico e o monstro]

o dilema é o seguinte: tem a Dora que eu sou e tem a Dora que eu quero ser. O ideal de mulher melhor que eu imagino.

E é uma briga diária. Quem eu sou grita, esperneia e quem eu quero ser senta calmamente para ouvir. Argumenta em vão. Quem eu sou é mais forte, mais alta. Quem eu sou é impulsiva e quem eu quero ser racionalmente explica porque a paciência recompensa.

Quem eu sou está cansada do discurso. Quem eu sou demanda ação. Sai pela porta em disparada e só volta quando está tudo dinamitado.

Quem eu sou, então, está arrependida. Deveria ter ouvido quem eu quero ser. Mas quem eu sou parece ser surda, quiçá cega. Senta e chora enquanto quem eu quero ser a consola.

Quem eu sou promete que da próxima vez [promete como prometeu da última vez] vai seguir os conselhos de quem eu quero ser.

lar doce lar

eu tenho a ideia de que preciso de uma casa. E já morei em algumas. Não era a ideia de lar, não era o fato de ter um lugar para morar. Era ter a casa. Eu tenho amigos que têm casas há muito tempo e outros nunca param em casa nenhuma. Mas quem diga que não conseguimos viver sem essa casa. E eu acho que eu não consigo viver sem casa. Então, por vezes, a casa não tinha teto. Tinha as quatro paredes, mas não tinha teto. E não sei porque eu chamei aquilo de casa. E quando chovia, eu morria de frio e precisava limpar tudo que tinha ficado molhado. Era terrível para dormir. Houve a vez em que arrumei uma casa com tantas portas que eu quase não controlava quem entrava. Era muita gente naquela casa. Houve vezes em que eu trouxe pessoas diferentes para a casa. Teve a vez que a casa era escura, não tinha iluminação e eu sempre tropeçava quando estava lá dentro. Carrego as cicatrizes.  Aí, eu decidi que não precisava de casa coisa nenhuma. Passei quase dois anos vagando pelas ruas. Foi ótimo não precisar ficar preocupada se tinha trancado as janelas e as portas, se tinha desligado o gás, se havia comida, com a hora de voltar. Eu não tinha para onde voltar. Eu era livre dessas amarras. Vez ou outra, eu pensava em ter uma casa de novo. Pela casa, não pelo lar ou pelo lugar para morar.

Foi quando vi um terreno. Parecia bem iluminado, a localização não era ruim. Vez ou outra eu vou ao terreno e construo alguma coisa. Às vezes passo mais tempo que deveria, mas não tanto quanto queria. Até que eu comecei a reparar em certos sinais de ratos. Eu não vi os ratos. Mas eu vi os sinais. Agora olho para aquele terreno em que idealizei uma casa tão linda com tanto pesar e medo. Quase amaldiçoo toda a ideia de construir uma casa. Talvez eu pertença às ruas. Talvez eu possa dormir numa casa ou outra de vez em quando. Mas começo a ter certeza de que nunca terei um lar.

Sobre selos e afins

Eu acho que escrevo bem.
E eu não me acho Clarice, Raquel ou Machado.
Eu só acho que escrevo bem.
Algumas coisas eu faço mal.
Mas escrever é uma das poucas coisas que eu acho que faço bem.

Eu posso nunca escrever um livro. Nem um conto.
Morrer no esquecimento.
E provavelmente irei.

Mas eu acho que escrevo bem.
Mas custo a acreditar quando as pessoas acham que eu escrevo bem.
Acho que é amizade demais ou pena, ou falta do que fazer.
Ainda não me decidi.

Por isso, nunca retribui os selos que me deram.
E não é por ingratidão ou porque eu sou muito ocupada, ou ainda porque eu não sei anexar uma figura ao meu texto.

É por vergonha, modéstia demais. Ou porque me acho cult, ou pela necessidade de ser diferente.
Ou talvez porque eu sinta que meus textos me deixam por vezes nua.
E por isso, que de todas as pessoas que eu sou, aqui eu sou Dora.

Mas eu queria agradecer.
E obrigada.