e antes que eu me esqueça...

- achei a sua cara.

o brinco tinha umas pedras vermelhas ornamentadas em uma estranha figura de 5 pontas. Não uso muito vermelho, nem nunca demonstrei afeição por objetos assimétricos. De alguma forma, no entanto, era aquela imagem que eu passava. Ou ainda, eu poderia passar a ideia de ser alguém educada demais para negar um presente que não teria sido minha escolha de acessório em ocasião nenhuma.

Já gastei meu latim em textos e mais textos para falar mal do ano novo e suas promessas. Ri de suas tradições, nunca comi 7 uvas nem nunca pulei 7 ondas. Visto roupas usadas, pego a primeira calcinha do monte sem me preocupar com a cor. No máximo, eu como lentilha. Eu gosto de lentilha, então fico feliz que minha mãe se importe em cozinhá-la no mínimo uma vez por ano. No ano em que eu usei vermelho, eu não me apaixonei, no que usei amarelo eu não fiquei menos pobre e o azul nunca me trouxe tranquilidade. Nem pretendo comentar sobre os anos em que usei no branco.

Fosse como foi, seja como é, esse fim de ano eu vou fazer tudo diferente. Para começar, assim como os doentes curados com placebo, começarei a acreditar nesses talismãs, tradições e simpatias. Ao que parece, a força não está no objeto e sim, na fé que temos neles. Comprei vestido novo, calcinha nova, sandália nova. Pretendo inclusive compor esse visual com o brinco vermelho pontudo que é "a minha cara". Vou pular as tais 7 ondas e comer as 7 uvas. Eu vou passar o minuto inteiro que vai de meia noite a meia noite e um, sorrindo, porque reza a lenda que seu ano é o resumo do que você faz no seu começo.

E seja o que cada patuá desses quiser...


...

fui tomada por uma súbita vontade de sentir o mar.

O balanço das ondas força meus pés a procurarem apoio. Flexiono meus joelhos. Procuro o equilíbrio.
O gosto salgado do mar me lembra o suor. Agarro a areia do fundo e a sinto sair aos poucos enquanto a trago para superfície. Pouco resta na palma da minha mão.

Luto contra a correnteza para sair, cada parte do mar me força a ficar. Me cobra permanência.
Cada parte de mim luta um pouco. Quando atinjo a faixa de areia, meus cabelos pingam o mar. Sinto o gosto novamente. Ainda é suor. Ainda é esforço. Traduz a vida.


________________________


doutorado, aí vou eu.

Zênite - relatos de [in]sanidade

Em meio aos relatos insanos próprios do trabalho, eu me perdi em meus próprios pensamentos. Parava só para ouvir uma frase de efeito ou outra.

- Eu não tenho medo da morte. Ela que parece ter medo de mim. - disse por fim.

Quando a ouvi, questionei-me se os escritores [nós?] não seriam todos uns loucos, uns transviados que se recusavam ao preto e branco da vida e faziam da realidade o seu caleidoscópio.



Sobre

tenho certeza de que minha primeira palavra não foi nem papai, nem mamãe: foi quando. Minha relação de amor e ódio com o tempo é notória. Me incomodam os atrasos, me irritam os adiantamentos. Me interessa o tempo certo que não chega. O tempo certo que eu desconheço a duração e o horário.

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tenho observado o burburinho a respeito do fim do mundo. Todos querem saber o que faríamos se o mundo fosse realmente acabar. Eu tenho achado isso um desperdício de tempo quer o mundo acabe ou não. Se acabar, e não houver nada depois, para onde eu levo a satisfação ou a frustração do que fiz ou deixei de fazer? E se houver algo depois, para que fazer tudo correndo?

rabugice pega.

eu não quero escrever porque eu não quero ouvir que vai ficar tudo bem. Não quero ouvir que para tudo na vida tem jeito. E que todos nós experimentamos um revés ou outro, que não ganhamos sempre. Estou farta do discurso consolador da derrota. Me irrita reclamar sempre dos mesmos problemas, ainda esses meus problemas também sejam os problemas dos outros.

Não. No final nem tudo fica bem. E quando é esse final, no final das contas? Ele chega? Ou estamos atados a uma trama sórdida e sarcástica que conserta um lado para estragar o outro? Será que toda notícia boa vem sempre acompanhada de outra ruim na mesma proporção?

Chega o dia em que alguém me pergunta "tudo bem?" e eu respondo com toda sinceridade: "tudo."?


Em tempo:
às 21:15

eu quero chorar o choro dos injustos. Gritar e espernear feito criança mimada. Amaldiçoar cada um dos meus obstáculos. Deixa os olhos arderem, incharem, a cabeça doer. Quero desidratar em lágrimas, me afogar em lamentos enquanto bato nervosamente meus pés na cama e afundo meu rosto no travesseiro. Deixe-me sofrer que a dor purifica.

chão da realidade é duro.

Sabe que por um momento eu realmente achei que era paixão? Amor, sei lá. Mas um lampejo de razão repentino me fez entender que, no fundo, tudo que eu queria era provar para você que suas acusações sempre foram a busca por redenção de seus próprios erros.

Isso estabelecido, lamento dizer que estou oca, racional e realista a última potência. O quadro é grave. Não só porque a paixão tem sido o combustível da minha vida pelos últimos anos, não só porque eu venho tentando me adequar e ser a mulher perfeita para cada um dos amores que tive.

Não só. Mas também.


e agora eu me vejo tão ciente de mim mesma. Tão inteira. Achando banal e sem sentido cada uma das neuroses das minhas amigas. Neuroses tão minhas, mas que de alguma forma não me pertencem mais.

E, qualquer um poderia dizer que eu deveria estar feliz, porque eu sou livre. Porque eu posso fazer o que quiser da minha vida sem depender de ninguém. No entanto, a única questão que me perturba, desafia e interroga é: serei eu capaz de viver sem morrer de amor?

persigo uma ideia absurda

hoje minhas margaridas morreram. E não é como se minha mãe não tivesse me avisado.

"Filha, essas flores não vêm com raiz. Não duram muito"

Mas eu a alimentei como se ela fosse para sempre. Reguei. Tirei suas folhas mais velhas e a coloquei num canto privilegiado pelo sol da manhã. Assisti todos dias mais flores sucumbirem. Pétalas e pétalas caídas no chão da sala me informavam a passagem do tempo.

Vê-la morrer pouco a pouco não me preparou tão bem quanto eu esperava para a sua ausência.

Tive vontade de criar um jardim nesse apartamento apertado para suprir minha necessidade de que as coisas durem mais. Como se eu pudesse vencer a qualidade que habita todos nós seres vivos: perecemos. Morremos.

E contraditoriamente, tudo que fazemos advém de uma teimosa necessidade em ser pra sempre.

fim?

to aqui assistindo a impressora dar concretude ao que me consumiu pelos últimos 30 meses. Cada folha nova que a impressora cospe, cheia de letras, palavras, frases, parágrafos, vão dando forma ao meu suor, minhas noites mal dormidas, minhas pesquisas, minha produção de conhecimento. Quem diria.

Cada folha que se sobrepõe a anterior vai dando volume ao meu aprendizado, ao quanto eu cresci [chorei, briguei, cansei, pirei, adoeci, mas sem dúvida, cresci].

...............................

escrever/falar em inglês sempre me fascinou porque sempre se qualifica antes de dizer o que é. É o blue pássaro, a beautiful flor. E não é sempre o adjetivo que nos chama atenção antes do substantivo?

............................

o cansaço mental existe. E ele mora comigo.

au revoir

a história, na verdade, é longa, mas me dói tanto no momento contá-la, que a farei curta. Resumida para o entendimento, mas breve para tamanho do sentimento.

acho que desenvolvi minha capacidade argumentativa, porque sempre acreditei que não há nada que não possa ser resolvido com uma boa conversa. Nem que seja para concordarmos que discordamos, mas, por favor, vamos deixar claro em que pontos até a última minúcia.

E talvez, ainda, porque eu sempre tive muitas palavras, muitas ideias, muitas letras se confundiam no meu DNA, invadiam minha corrente sanguínea: era inútil, elas tinham que sair.

Então, não posso deixar de comentar a minha surpresa quando fui caluniada, pela primeira vez na vida que me importei com o que falavam, e o que eu dizia não surtia qualquer efeito. Minhas palavras já nasciam mortas, escravas de fatos irreais cruéis.

No exílio, para o qual no começo eu fui de bom grado, 'que se fodam todos', refleti. Como ser humano que sou, havia cometido uma infinitude de erros, cada um pior que o outro, sempre arrumando justificativas para tê-los cometido. E vejam só vocês, eu pagava a sentença exatamente do único erro que eu não tinha cometido.

Injusta vida.

E mesmo quando retornei a minha terra natal, fui vítima dos desencontros e dos desatinos. Mas ainda mais dos desencontros. E quantos desatinos!

Porém, nunca imaginei perder o meu relicário. E, quem sabe, esse é o sinal que estava faltando para eu trancar essa porta, jogar a chave no lago mais fundo e não voltar nunca mais.


fragmentos

se eu tivesse que escolher um personagem para minha atual condição, com certeza, seria o coelho branco do "Alice..."

... _____.... _____....

Esses dias de pouco tempo e muito foco, a hora de dormir tem se tornado o local especial para a reflexão - jeito bonito que eu tenho de chamar a insônia.

... _____.... _____....

Tenho me saído até bem de todos os imprevistos que eu mesma causei.

... _____.... _____....

Para algumas coisas, muitas coisas, eu tenho mais vontade que talento.

A pressão a [meu] gosto.

fechei os olhos em março, acordei em agosto.
Agosto que rima com desgosto. Mês de 31 dias e sem feriados.

Minha atual necessidade por tempo, um tempo infinito, um tempo que não sei precisar quanto tempo é.
Só sei que é um tempo.

Um tempo para eu respirar.

Inspira.
O ar, as palavras, o meu texto.
Os momentos finais, pressionados para serem finais.
E que seriam prorrogados, postergados, estendidos até seu último momento, porque é a necessidade de ser último, de ser fim que me move. Tudo precisa ser esgotado, exaurido, consumido até a última gota. A distância, o longo prazo me deixam inerte.

Expira.
O ar, as palavras e o prazo.
A correria. A adrenalina dos metros finais. A visão da linha de chegada, tão longe e tão perto.
O esforço. A insônia. O medo. Tudo isso misturado a um grau de motivação que antes era inexistente.
O agora, a última hora.

meu vício é o efêmero.



insone presença

meu coração arde.
estou com uma estranha saudade de tudo que vivi.
Dos lugares em que estive.
Das pessoas que conheci.
Dos momentos.
Da segurança que tudo que passou nos dá só porque é finito e acabado.
Só porque toda ação conjugada no passado não me traz nada que amedronte ou entristeça.

É uma nostalgia estranha, antes porque é irritantemente constante do que pelas lembranças que traz.

Não, não estou arrependida do que fiz ou do que poderia ter feito.
As pessoas tendem a se arrepender das palavras a mais que disseram nos momentos de raiva.
Hoje eu me arrependo do que disse de menos.

[nem te] conto II

A manhã de hoje lembrava aquelas de prenúncio de primavera. E eu, uma ingênua crédula da previsão do tempo, havia me vestido o suficiente para aguentar os ares polares do sul. Então, eu sentia calor e estava claramente incomodada.

De qualquer forma, eu agia como em todas as vezes em que passava em frente àquele prédio: com esperança. Desde que descobri que a empresa em que você trabalha tinha sede perto da minha casa, aquela rua era caminho certo, seja qual fosse o meu destino.

Era todo um ritual para te atrair. Eu colocava no MP3 a sua banda favorita, estava sempre perfumada e com  as unhas pintadas. Andava o mais devagar que a minha idade permite e tentava que aquilo fosse o mais casual possível.

O cheiro daquela rua era sempre o mesmo. Não era o novo jardim do prédio recém construído do outro lado da calçada, nem dos livros novos da livraria da esquina. Era um cheiro de nostalgia. Eu prendia a respiração em ansiedade e sentia o seu perfume. Olhava disfarçadamente para trás. Quem sabe você tinha passado por mim e eu não tinha reparado - o quanto será que os anos podiam ter te mudado? Mas para trás não tinha ninguém, só a saudade.

E hoje foi mais uma daquelas quartas-feiras, de muita esperança [fantasia?] e pouco resultado, tentando ainda driblar os desígnios do nosso destino...

eu não sei rimar.


quero que você assista
eu me despir
das roupas, do meu devir
você sempre foi o realista
e quem sou eu?

me acho artista
enquanto desenho meu corpo no seu

e observo suas digitais
tatuadas no meu corpo
coisas tão banais
marcando a memória
pouco a pouco

e quanto mais da nossa história
ainda está por vir?

então vem assistir
eu me despir
das minhas ilusões
minhas, suas e nossas limitações

o tempo é nossa bruxa má...
vê se não vai demorar.

nada sei.

até quando a nossa idade nos absolve?
quanta idade é pouca para justificar os meus equívocos, meus pretensos ideais, meus tortos sonhos e meus infantis desejos?

a sabedoria vem de quem cede ou de quem é firme?
reafirmar ou submeter?

eu sigo ou inverto a lógica, faço tudo ao contrário do que faria, corro quando deveria andar, grito quando me pedem silêncio, avanço quando deveria esperar?

não há garantia de nada e aquela 1 vez em 1 milhão desautoriza todas as estatísticas.

estou à procura da exceção...

A menina

Era uma vez uma menina que gostava de um menino. Na verdade, ela não sabia se gostava. Ela estava no canto dela entediada, numa incômoda paz e podia ter ido ler um livro, plantar uma árvore ou andar de bicicleta. Mas ela achou isso tudo muito simples. Bom mesmo é complicar. E se é pra complicar, vamos fazer  o trabalho completo, com direito a paixão e tudo!

Então tinha essa menina que gostava desse menino. E como se não bastasse, esse menino tinha que ter uma namorada. Porque, veja, se ele tivesse sozinho, disponível e quisesse ficar com ela, tivesse proposto casamento, uma casa no campo e cinco filhos, ela diria que tava tudo muito simples. Complicado e interessante é o cara que não a quer. É o cara que não liga.

Mas não pense você que a menina que gostava do menino iria armar para o namoro do menino acabar. Por mais que a menina não escondesse que se um dia a namorada do menino fosse morar no Alasca, em Marte ou se simplesmente 'pluft' desaparecesse, ela ficaria, sim, muito feliz, não partiria dela essa ação.

E isso não significa que a menina não achasse que o menino valesse à pena. A menina tem todas as dúvidas, menos essa. Também não é bem o medo da rejeição que impede a menina de atentar contra o relacionamento do menino. A menina sabe que entre o certo e o incerto, os homens [e principalmente, os meninos] tendem a ficar com o incerto.

O que sustenta essa atitude da menina é saber que ela não quer alguém com dúvidas. A menina quer o menino inteiro. Então, a menina espera [im]pacientemente até que o tempo do menino e de sua namorada se esgote, pra que ela finalmente possa declarar isso, que ela não sabe ao certo o que é.

Mas é.
E a presença disso que a menina não sabe definir bem o que é, não pode ser ignorada.

28

Medo.
É um desejo completamente louco.
Insana vontade que me acomete.
E eu não tenho nada a perder e essas são as pessoas mais perigosas.

Eu caminho pronta pra explodir.
Explodir em palavras e sentimentos.
E quem sabe, nas piruetas do destino, eu atinja você.
Você que eu guardei mais bem guardado que a menor Matrioshka.
Para te resgatar, ainda que você não tenha me pedido nada.

Eu só não sei se isso é capricho, desespero ou simplesmente amor...

"O tempo rodou num instante...Nas voltas do meu coração..."

- E se for um sinal?

E tudo na nossa vida tinha sido um. Desde aquela maldita conta de bar que eu não consegui pagar por ter perdido o cartão, que me atrasou a chegar em casa, que foi a gota d'água de um relacionamento falido e minha mudança definitiva para o bairro das Laranjeiras.

Eu não conseguia vê-la por aquele insulfilm número sei lá quanto. Eu só a imaginava vestida de noiva, nervosa, provavelmente roendo as unhas, como no primeiro dia em que nos vimos.

Eu estava distraído e não imaginava a minha sorte. Não precisaria pedir outro cartão e esperar os 15 dias [in]úteis que ele demora para chegar e enfrentar as filas do banco para sacar os 10 reais da passagem. Eu sempre esqueço de contar com o da passagem.

- Gabriel?

Eu me virei e a vi lendo o nome no cartão. Eu fiz que sim e ela sorriu. Quis convidá-la para almoçar, para retribuir o retorno em segurança do meu cartão do banco. Ela olhou o relógio. Hesitou. E, no final, disse: - por que, não?

E o almoço se estendeu quase até a janta de tanto que conversávamos. Ela foi embora e nem número trocamos. E nem foi preciso. Nos cruzamos tantas outras vezes em situações inusitadas. No metrô, enquanto cedia lugar para uma senhora, num Flamengo e Vasco, na praia, num hall de elevadores no centro e na padaria numa manhã de primavera. Foi quando descobri que ela também morava nas Laranjeiras.

Quando a gente se beijou pela primeira vez, chovia. E ela disse que era como no cinema. E mesmo quando brigamos e terminamos antes daquele carnaval, nós acabamos em casas de veraneio vizinhas e fizemos as pazes naquele quarto quente de um ineficiente ventilador de teto, afogados em suor e repelente.

Foi mais ou menos nessa época que fiz a tatuagem da bússola que apontava para o "N" de Norte, mas que na verdade apontava para ela, "N" de Núbia. E Deus sabe o custo que foi convencê-la a se casar na igreja para agradar minha mãe.

Tudo isso para no dia do casamento o padre sumir.

- Meu amor, fica calma. Deve ter acontecido alguma coisa. O trânsito dessa cidade é um inferno, principalmente quando chove.

- E eu achava que os padres moravam nas igrejas...

O padre chegou molhado e sujo de graxa e o casamento atrasou 2 horas. Quando finalmente ouvi a pergunta, queria dizer que tudo aquilo era livre e espontânea vontade do destino. Mas resumi tudo.

- Sim.

368 dias depois...

ssshhhh! Lê baixo. Não vai contar para a minha dissertação que eu estive aqui, gastando o meu português em outro lugar que não seja nas suas infinitas folhas brancas. E o cursor piscando. Eu odeio aquele cursor.

Nem me dei conta que venho escrevendo aqui - com menos frequência do que planejei - há mais de um ano. Quando olhei o calendário, de repente era dia 13. E alguém me explica por que já é dia 13, quase metade do mês de maio, quase metade do ano 2012 e quase 2 meses para eu entregar a minha dissertação?

Obrigações e prazos vencendo à parte, eu não poderia deixar de comentar sobre o primeiro aniversário desse meu companheiro que é o blog. Sim, porque ele aguenta minhas loucuras, meus rascunhos e minha quase-bipolaridade. Um texto armazenado que eu achei péssimo hoje, pode ser a minha obra-prima de amanhã. Vai saber...

Fato é que esse blog é a prova viva de uma mudança. Eu fui de me achar engraçada ao escrever textos cheios de deboches e indiretas para uma escrita mais melancólica e reflexiva. Há quem culpe o mestrado [eu culpo] ou pode ser só, e somente, sinais da minha rabugice aflorando [Mariela disse que serei uma velha bem rabugenta. Azar o dela que estará tricotando comigo!].

Ou ainda, quem sabe, reflexos de um ano em que eu tive algumas perdas que me trouxeram mais ensinamentos do que eu gostaria de admitir.

Seja como for, que os anos passem, mas que a escrita me acompanhe.

as faces do fim

- mas eu acho que dessa vez não tem volta...

É assim o início do fim. Pro fim mesmo a gente não acha, a gente sabe. Se perguntam se não tem volta, você responde um simples e confiante NÃO. Uma negativa na qual você acredita. Você chegou ao seu fim. E dali não nasce nada.

Agora se você diz "eu acho que dessa vez não tem volta" é porque tem. Você gostaria do fundo do seu coração que não tivesse. Você torce para que internamente haja a força necessária para isso ser verdade. Mas você sabe que não é.

E encontra. E diz que é a última vez. "Não, foi só um reencontro, uma despedida". E aquilo estranhamente se repete. E quando você vê é namoro de novo. Ou é uma putaria qualquer da qual você não se liberta.

É um fio, quase um cordão umbilical que alimenta sua fraqueza, sua incapacidade... sua carência. Seu medo de ficar só. Seu medo que ninguém nunca mais te ame ou deseje.

E aquilo se arrasta. E você carrega esse fardo. Pesa. Marca. Debilita.

E a gente nunca sabe qual fio dessa bomba relógio irá desarmar a bomba ou causar a explosão que, aí sim, termina tudo.

E, enfim, é fim.
Eu podia escrever um livro hoje ou não escrever nada. Não ia fazer diferença.
Todos os dias as palavras que me preenchem não são as mesmas que me deixam...


"...e uma rainha sentada sozinha em frente a uma mesa
planejando a tão sangrenta batalha
por seus generais, desacreditada
mas ainda movendo exércitos numa tentativa (vã) desesperada
de conquistar uma terra
que quer tudo!
menos ser conquistada...
sacrificando soldados
fechando os olhos pra não ver
que certas coisas simplesmente
não foram feitas pra ser..."

TIC...

o tempo corre. Eu estou em câmera lenta. Quando vou tocar algo, é tarde demais. A velocidade dos acontecimentos me inunda. Estou afogada em afazeres, expectativas e possibilidades. E o pouquinho de oxigênio que eu recupero, a vista da terra firme, e de repente tudo é mar por todo lado. A correnteza me carrega entre os corais. Beleza e dor.

So maybe tomorrow...

esquece tudo que você acha que sabe sobre mim ou sobre as coisas que você acha que sabe mesmo que eu não tenha dito, ou aquelas que você acha que captou numa ou duas atitudes minhas. Esquece também que eu sou previsível, ansiosa, desesperada, impulsiva e debochada.

Não considere a minha insegurança boba, minha mania de falar demais, minha irritante necessidade de aparecer e meus braços tortos.

Faça o favor de não lembrar que eu já fui mais alegre, mais esperançosa, já escrevi melhor, já tive mais piadas, tive o cabelo mais bonito e as unhas mais vermelhas.

Não pensemos nos planos que fiz e não cumpri, nos que não fiz, nos que tive medo de fazer, nos que me faltaram ousadia ou oportunidade, ou os dois.

Melhor omitir que meus conselhos servem mais pros outros que pra mim mesma. E deixemos pra lá o meu lado rancoroso e infantil.

Amanhã eu tenho um passo para um sonho. Pode não ser o primeiro, pode não ser o único. Tem, inclusive, a grande possibilidade de não ser. E eu levarei o fracasso de lição para a próxima vez que a porta se abrir para mim.

De qualquer forma, esqueçamos o que me limita.
Amanhã eu só posso levar o melhor de mim.

Ad infinitum

O complexo desenrolar dos fatos é sempre entendido no processo interminável da vivência.
Não há o fim, o momento final onde tudo se desenrola, se estabelece.

Os bons, genuinamente bons, só colhem os louros da vitória.
Os ruins, os vilões, morrem, são presos, sofrem, ou fogem pra enganar outros.
Isso se chama novela. Isso é final de livro ruim.

A vida real não é só resultado e ponto final. São vírgulas, ponto e vírgulas, parágrafos e mais parágrafos desconexos.

E tenho pena de saber que as coisas que eu quero muito hoje acontecerão no momento em que eu não precisar mais delas.

[nem te] conto.

O fato de eu não ter levantado os meus olhos do livro não significa que ele não saiba que eu o reconheci. A tremida leve no canto dos meus lábios devem ter me denunciado.
Mas também quem pode me culpar?
É ele quem continua a usar o mesmo perfume. E a mesma blusa xadrez.

Quando ele se aproximou e parou ao meu lado, eu senti a fragrância invadir minha mente de lembranças e meus olhos que iam de um lado pra outro nas páginas do romance paralisaram.

E se não fosse o perfume, eu nem me lembraria dele.
E se não fosse aquela foto nossa que eu guardo no terceiro livro da estante e que eu olho todas as quartas-feiras, eu nem reconheceria o seu rosto.
E se não fosse eu mesmo quem tivesse dado pra ele a blusa xadrez no natal de 2009, ele seria mais um na multidão.

Eu nem me lembrava mais o que estava lendo. Virava as páginas de maneira despreocupada. Umas vezes mais rápido, outras mais devagar. Enquanto ele parado ao meu lado, não fazia nada. Era como se ele tivesse escolhido aquele lugar por acaso.

Eu não fazia ideia de quanto tempo aquilo duraria. Não sabia em que estação estava. Não sabia em que estação ele saltaria.

Depois de um tempo que pareceu uma eternidade, ele se mexeu. Caminhou em direção à porta contrária. Eu levantei a cabeça e o segui com o olhar. A composição parou na estação e ele desembarcou sem olhar pra trás.

Então ele havia realmente me esquecido, como havia prometido fazer.
Que bom que eu também.

Solo.

costumavam me dizer que a concha tem o barulho do mar. Mas quando eu colocava uma concha no meu ouvido, não havia sequer uma onda. Eu pensava que então a concha reproduzia o barulho do mar sereno. Calmo. Sem nenhuma manifestação de sua existência que não fosse percebida pelo olhar.

E toda vez que eu tinha uma concha, eu fechava os olhos. Eu via o mar. Eu me arrepiava com a leve brisa. Eu sentia o cheiro da maresia.

O silêncio criava um mundo inteiro.

Eu acreditava que pra ser plena, eu precisava estar apaixonada. Um coração preenchido era um coração satisfeito. E eu fui de amor em amor, paixão em paixão, até a última das últimas decepções. Um coração hoje flácido, alargado até suas últimas consequências, cansou de tanta entrega. De mesmo quando eu não era toda, eu era inteira.

E eu amei pra sempre cada um deles. E em cada um eu morri um pouco, eu achei que seria diferente, e fui igual. E me apeguei a qualquer detalhe. Eu me prescindi.

E agora no vazio, que é também espera. O hiato merecido. Eu não ouço nada. Nem o barulho do mar sereno. Nem o vento, nem a maresia me abordam.

Estou só.

Destino, você está atrasado.

Seguindo a lógica do
"Quando tudo nos parece dar errado,
acontecem coisas boas
que não teriam acontecido
Se tudo tivesse dado certo."
[foi Renato Russo quem falou isso mesmo?]

foi melhor assim. A gente repete. Quase uma oração.
Sempre que algo não dá certo, ou pelo menos não do jeito que eu entendo ser certo, eu penso: foi melhor assim.

Quase um recalque do destino. Ele me fode, vai contra meus desejos, minhas vontades, ignora meus esforços e para me consolar, eu reitero: foi melhor assim.

Ou eu parto para a variação: vai tudo dar certo na hora certa. No momento certo, aquele em que você não espera. Na ponta do precipício, no último segundo para desarmar a bomba. Quando todas as esperanças já se foram, quando você não tem mais expectativa de nada.

É geralmente nessa hora.
Tipo, AGORA.

Cadê?


Meu coração é igual...

a euforia de ser quem eu quiser ser, me travestir de alegria, da risada verdadeira, e de gargalhar tanto até doer, das novas experiências, novos caminhos, novos espaços e novas pessoas.

E eu caminho atrás da música que embala meu corpo num ritmo alucinante. E sorrio.

A felicidade cabe em 4 dias no ano.
E transborda.

Carnaval, vem.

Minha carne é de carnaval.
Meu coração é igual...

Para você que ainda não veio...

Eu não questiono a sua fé. E eu não compreendo ao certo os limites da minha. Mas houve uma vez que me disseram: esquece esse, tem coisa melhor para você. E a mesma esperança com que eu sai de lá é a angústia que eu carrego em te reconhecer.

E eu sinto uma falta enorme do seu cheiro, porque eu imagino que o seu perfume seja algo inebriante. E se eu prender a respiração tempo suficiente, o esforço me recompensa com essa fragância tão peculiar do seu corpo.

E enquanto eu deito confortavelmente no seu peito e encaixo perfeitamente entre seus braços, eu me pergunto quanto tempo demora para você finalmente chegar.

Tudo em você é tão completo e, mesmo assim, imperfeito para ser único. Eu observo a sua respiração lenta e cada piscar de olhos que revelam as irís mais lindas que eu já vi e enquanto você me olha e sorri, eu agradeço.

Agradeço a paciência, nem sempre plena, que tive de esperar pelo momento que não sei quando será. Por ter sabido aguentar a saudade de um amor que até então eu não tinha conhecido, que eu não sabia possível.

E que dure o tempo que durar, será eterno, porque foi amor...




Para Nina Nuth e as nossas angústias

Ah, não fode...

Épocas de transição de comportamento são tempos difíceis para a vanguarda. Imaginem o que foi para Leila Diniz aparecer grávida de biquini na praia pela primeira vez. Um escândalo. Mas ela teve que ir para hoje você poder fazer o mesmo. A evolução se alimenta da coragem daqueles que tiveram a audácia de ousar.

Eu não sou Leila Diniz. Pelamordeus, pretensão, segura tua onda. Mas que eu não sou como a maioria, isso eu não sou. Eu sou essa transição que alterna entre o velho e o novo. Entre o conservador e o progressista. E eu estou falando sobre sexo.

Conversando com algumas amigas, elas se questionam: será que eles só querem me comer? Eu questiono de volta: Por que? É ruim? Eles não fazem bem feito? Qual o problema em você só querer dar?

Tem muito problema, senhoras e senhores. Uma mulher que faz sexo pelo prazer, pelo simples ato de gozar é quase uma puta. Só não é uma puta inteira porque ela não cobra por isso. Às vezes, não cobra nem o orgasmo. Porque a gente não gozar é até normal. O cara goza, ejacula, e pronto. O sexo acabou. Vira pro lado. Dorme. Não é absurdo, acontece muito.

Somos educadas [pela família, pela escola, pela Globo] que sexo é algo próximo ao sagrado. Mas somente para nós mulheres. O cara sai, transa na primeira noite e quem não é valorizada? Nós.

Não, meu post não vai mudar o mundo. Nem sou tão revolucionária assim. Eu já falei mal de muita mulher que saiu transando por aí na primeira vez. Ou ainda, que na primeira vez que transou com o cara quis tudo. E por tudo eu to dizendo sexo anal e afins.

Porque, convenhamos, o nosso prazer é condicionado. É obrigação do cara tentar e é mais que nossa obrigação dizer não. E assim ele sabe que a gente vale a pena e é para casar.

Pois bem.

Se acreditamos que a anatomia humana é perfeita, o clitóris está ali por algum motivo. Descubram...

Fragmentos de mim

não sei se é pedir muito. Mas é o que eu quero. O que eu preciso. A minha eterna busca. Meu projeto de vida. O que me alimenta, o que me destrói. Eu queria ter alguém que ficasse. Quando a chuva vira tempestade, quando o sol ofusca, em céus estrelados ou noites nubladas. Quando o frio for insuportável e o calor detestável. Quando os outros forem mais belos, mais legais, inteligentes e simpáticos. Ainda sim. Queria ser a escolha de alguém, apesar de tudo e de todos.

-_-_-

E tenho medo que quando eu ache, eu desista, eu não dê valor, eu subestime. Eu abandone. Quem sabe quem me alimenta seja a possibilidade.

Os escolhidos

Segundo a contagem do blogger, de 10 maio de 2010 até o dia de hoje, eu postei 71 textos. Haja assunto! Haja reclamação, haja paciência de vocês para lerem tanta besteira!

principalmente das minhas amigas mais próximas que lêem isso aqui desde o comecinho! Isso que é amizade. E olha que eu não cobro apenas a leitura. Eu cobro que elas falem, opinem. Tá bom? Tá claro? O que você entendeu?

Desses 71 posts eu elegi meus 9 preferidos. E não são os mais lidos ou comentados. São os que eu achei que escrevi melhor, nos quais eu fui mais clara ou simplesmente porque me aliviaram absurdamente. Não estão em ordem de preferência. Estão em ordem cronológica.

1 - Make yourself home
2 - Devolva-me
3 - Véspera do dia seguinte
4 - Pode isso, Arnaldo?
5 - Subesti[mar]
6 - com preguiça de pontuação [ou ponto final]
7 - Tem coisas que mudam sempre... e outras.
8 - Platão tem toda razão
9 - Desatando nós... e nós!