[no que tenho me] Tornado.

Eu me debato. Para vencer a estranha paz da inércia, eu me debato. Quando a superfície da água é calma, eu sou a tempestade que vem revirar tudo.

Eu procuro movimento. Mas não é movimento qualquer gracioso e suave. É um movimento de revolta, de revolução, que varre tudo pela frente.

e quando finalmente me acalmo. 
quando o cansaço finalmente me toma...
quando a energia enfim, me deixa.

Eu olho em volta. E tudo é destruição.
Nada restou intacto.

e estou arrependida.
Não houve uma vez em que eu não estivesse.

"É que só sei ser impossível, não sei mais nada. Que é que eu faço para conseguir ser possível?"*

Eu não posso te culpar por olhar para mim e não ver as rachaduras. Eu já me quebrei e juntei tantas vezes que ando um tanto desconjuntada. Minhas articulações rangem e você não ouve. Eu sou a bonequinha escangalhada no canto do brechó que ninguém soube cuidar. E quantas pessoas eu já deixei de ser. Mas você não sabe. Quantas eu fui, e sou de novo. E quantas ainda quero ser. 




*Macabéa. Clarice Lispector, A Hora da Estrela


a perfeição é monótona

a rotina é uma pedra no sapato que eu sou obrigada a calçar todos os dias. Ela me mutila lentamente. E seu incômodo é quase imperceptível. É uma perda de vida paulatina. É meu sorriso morrendo diariamente. E no fim não entendo a minha tristeza.

Tenho o que queria. O que pedi. O que achei que poderia me fazer feliz. Cheguei no final do arco-iris. Achei meu pote de ouro. Estou inerte. A alegria inicial se dissipou. Nada me desafia, nada me impele.

Procuro o conflito. A perfeição é monótona. Quero algo que dê vazão aos meus pensamentos.

A paz é apática. Só a guerra me impulsiona.