Platão tem toda razão...

eu estava ali tão despretensiosamente que nem tinha gastado tanto tempo assim me vestindo. Não tinha me preocupado com cordões, estava com a minha argola que um dia foi prateada, minha bermuda que um dia foi calça e uma blusa antiga para combinar com meu visual largado.

Até que ele entrou na sala e eu me arrependi de tudo. Eu tentava disfarçadamente arrumar o meu cabelo que, com certeza, estava desarrumado pelo jeito nada convencional que eu me sento. Aliás, deixa eu sentar direito. Encostei as costas totalmente na parte de trás da cadeira, cruzei as pernas. Ele, sem fôlego, achando estar atrasado, preocupado em começar logo a aula extra para qual tinha sido convidado.

E você pode não acreditar em destino, mas eu sei que todas as vezes em que procastinei conversar com aquela professora sobre a pesquisa dela, foi para eu estar ali naquele dia. Naquele exato dia em que ela convidou um professor visitante.

Havíamos combinado que eu assistiria a aula dela, e depois conversaríamos. Okay, eu pensei. Que mal pode ter em ganhar um pouco mais de conhecimento? Até que ele surgiu na porta. E o mundo ficou em câmera lenta pelas próximas 4 horas.

Em suas primeiras palavras, eu não ouvia nada. Me encantava a forma como os seus lábios mexiam e eu olhava diretamente para eles. Quando a sua primeira frase chegou aos meus ouvidos, tão coerente, tão cheia de conhecimentos e fatos, eu não conseguia fazer nada. Só sorri. Anotei qualquer coisa no meu caderno.

Algumas palavras eu nem nunca tinha ouvido. Eu queria saber o dicionário inteiro. Eu queria voltar no tempo e acabar com todas as horas de estudo negligenciado. Eu queria saber tanto quanto ele. Eu queria contestá-lo, ao invés de só, boquiaberta, concordar com cada uma de suas conclusões.

Em silêncio, eu era igual a todas as outras mulheres na sala. Tão encantadas quanto eu. Era óbvio. Eu queria falar qualquer coisa, nem que fosse perguntar onde o banheiro ficava.

Mal consegui pedir licença quando a aula acabou. Ele estava entre mim e a porta. Conversava algo com alguém que eu não conseguia ver. O mundo ofuscado pela sua presença. Encostei de leve em suas costas e ele, tão interessado na conversa, nem me viu ao me dar passagem.

Quando a professora me questionou, minutos depois, eu fui sincera.

"ele é bom, né, Dora?"
"Excelente, professora..." - e falei baixo - "mudou minha vida..."

5 comentários:

Anônimo disse...

Minina..."mudou minha vida"...foi assim o negócio eh?...!

E não acredite no acaso...eu não acredito!

Lia

Samuel Medina (Nerito Samedi) disse...

Os meninos normais (como eu) sempre se perguntam como seria isso, de chamar tanta atenção. Sei que não existe receita, mas se eu puser as mãos na fórmula... taco fogo!

Anônimo disse...

Não some Dora! Serena Sol

Kinho disse...

Gosto de vc assim Dora... Se apaixonando... Se jogando pra felicidade !!

donluidi disse...

Eita que assim volto a ministrar aulas (rs).