costumavam me dizer que a concha tem o barulho do mar. Mas quando eu colocava uma concha no meu ouvido, não havia sequer uma onda. Eu pensava que então a concha reproduzia o barulho do mar sereno. Calmo. Sem nenhuma manifestação de sua existência que não fosse percebida pelo olhar.
E toda vez que eu tinha uma concha, eu fechava os olhos. Eu via o mar. Eu me arrepiava com a leve brisa. Eu sentia o cheiro da maresia.
O silêncio criava um mundo inteiro.
Eu acreditava que pra ser plena, eu precisava estar apaixonada. Um coração preenchido era um coração satisfeito. E eu fui de amor em amor, paixão em paixão, até a última das últimas decepções. Um coração hoje flácido, alargado até suas últimas consequências, cansou de tanta entrega. De mesmo quando eu não era toda, eu era inteira.
E eu amei pra sempre cada um deles. E em cada um eu morri um pouco, eu achei que seria diferente, e fui igual. E me apeguei a qualquer detalhe. Eu me prescindi.
E agora no vazio, que é também espera. O hiato merecido. Eu não ouço nada. Nem o barulho do mar sereno. Nem o vento, nem a maresia me abordam.
Estou só.
2 comentários:
Dora, seus textos tem uma melancolia que me agrada muito... são ótimos, belos.
Sempre tive minhas ressalvas com a paixão, o descontrole me assusta! Acho q é hora de buscar o equilíbrio do coração...! Vc pra menos e eu pra mais! rs
Lia
Ps: Você NUNCA está só! Te amo muito! Estamos juntas!
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